quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Os Casarões da Minha Vida - O casarão da São Jerônimo, o Bairro do Reduto e a figura de meu pai


Em 1991, na data de hoje, 19 de janeiro, meu pai, Pedro José de Mendonça Gomes, partia para o mundo espiritual. Vítima de um aneurisma intestinal, só diagnosticado após seu falecimento, passou apenas dois dias internado na UTI do hospital cardiológico - SOCOR, então na João Balby, quase esquina da Alcindo Cacela. Sua morte, rápida, me abalou profundamente. Nesta época estava respondendo pela direção do Centro de Filosofia da Universidade Federal do Pará – CFH/UFPA, que dividia com Heraldo Maués, de licença por motivo de cirurgia. Janeiro, período do vestibular, época de trabalho intenso. No dia 18 não consegui chegar no horário de visita. Papai morreu na madrugada do dia 19. Não me perdoava por não tê-lo visto na véspera. Nem à universidade, que “roubara” meu tempo que poderia ter sido dedicado a ele. Demorei a retomar o prazer pelo trabalho universitário. Durante meses me deparei chorando enquanto dirigia, a caminho da UFPA. O tempo passou. Hoje completam 25 anos que ele se foi. A saudade continua imensa e o amor também, mas passei a encarar a morte com mais naturalidade e a ter certeza de que ele continua vivo em outro plano espiritual. 
Lembro meu pai levando-me ao cinema, ao dentista, acompanhando e estando sempre presente nos momentos importantes de minha vida. Exageradamente cuidadoso, era sempre vigilante. Acompanhava-me às festas universitárias e sempre interrompia alguma dança em que o cavalheiro era mais ousado. Mas gostava e era amigo do Antônio Jorge, seu vizinho de loja, no Reduto. Em várias ocasiões apoiou nosso namoro quando minha mãe a ele se opunha pelo espírito boêmio do Abelem. Mas o que mais me recordo de meu pai, até hoje, após tanto tempo de sua partida, é o exemplo de humildade com que encarou os reveses que a vida lhe ofereceu. 

Pedro Gomes, sua esposa Cecília, seus sete filhos e seus pais Aurea e Rafael Ferreira Gomes, década de 60

FRIGOPAR na esquina da Rua 28 de setembro com a Trav. Benjamin Constant, década de 60.

Esquina da Rua 28 de setembro com Benjamin Constant, Cartório de Registro de Imóveis onde antes situava-se o FRIGOPAR

Tendo sido um “rei” no Reduto, seja como filho da família Rafael Ferreira Gomes, seja como um dos sócios do Frigorífico Paraense – FRIGOPAR, passou na década de 80, após falência da firma, do enfarto que o impediu de continuar à frente da Lanchonete VINDI-K e a venda do casarão por hipoteca ao Banco da Amazônia S/A – BASA, a tomar conta de uma banca de revista que o genro, Antonio Jorge Abelém, abriu para ele anexa a sua Loja Jorbem, na 28 de setembro, esquina com a Benjamin Constant, onde na outra esquina tinha funcionado o FRIGOPAR. O movimento era pequeno, saiu de lá para tomar conta de uma portinha/lanchonete, que Abelem abriu no depósito da Loja Jorbem da Boulevard, na Oriental do Mercado, onde vendiam sopa aos feirantes, depois ficando como uma espécie de supervisor desta loja de redes e da frabriqueta de mosqueteiro que ali funcionava. Nunca ouvi de sua parte qualquer reclamação ou revolta, ao contrário, na sua simplicidade gostava de conversar com os fregueses, feirantes e ambulantes que por lá transitavam. Era amigo e “conselheiro espiritual” de muitos deles.

Pedro Gomes na porta da lanchonete VINDI-K, nos jardins do Casarão da São Jerônimo

Para registrar a importância que sua firma teve para a cidade de Belém na década de 60, e melhor entender quando ressalto sua humildade, transcrevo o texto da coluna “Quem é Quem”, de um jornal local de 1966, cujo recorte encontrei entre os documentos deixados por minha mãe.


“QUEM É QUEM presta hoje uma justíssima e sincera homenagem a um dos construtores do progresso do Pará. Pedro José Gomes, do FRIGOPAR, mola mestra no pioneirismo da Industrialização da carne verde foi o escolhido para figurar nesta coluna. E o leitor, conhecendo o que já fez o FRIGOPAR, certamente está apoiando a nossa iniciativa.
Pedro José de Mendonça Gomes é nome de alto significado no comércio e indústria do Pará. Cem por cento paraense, filho do digno casal Rafael Fernandes de Oliveira Gomes e esposa Aurea de Mendonça Gomes, traz nos ombros a pesada responsabilidade do fornecimento de carne verde para cinquenta por cento da população de Belém, Forças Armadas e estabelecimentos do Govêrno do Estado. Trabalho desenvolvido através do FRIGOPAR de onde é proprietário, juntamente com seu irmão José Gomes, o sr. Pedro José de Mendonça Gomes é um dos valores do nosso comércio e indústria, projetando a vida econômica da nossa região.
Com um, sem dúvida alguma, elogiável tirocínio comercial, iniciou sua atividade nos nossos meios comerciais em 1937, nos Armazéns Ferreira Gomes. Atuou na Paraense Transportes Aéreos e finalmente no FRIGOPAR dando a este frigorífico elogiável impulso, atendendo plenamente as necessidades de consumo do povo.
É casado com dona Cecília Ramos Gomes, tem sete filhos, sendo o maior com 23 anos e o menor de 8. Além do FRIGOPAR é proprietário de dois matadouros, Matadouro Agro Pecuário Industrial, em Goiânia e Pedro Afonso. 
Dando mais uma parcela de valiosa contribuição para o desenvolvimento econômico da Amazônia, vai o sr. Pedro Gomes, dentro de dois meses inaugurar a S.A. em Benevides, para explorar a indústria leiteira. Trata-se da Rafaellandia Agro Pecuária Industrial S.A., numa simpática e valorosa homenagem ao seu genitor Rafael Gomes. Objetivando melhor atender ao fornecimento de carne verde, vem de aumentar a frota de transportes do FRIGOPAR adquirindo um aparelho “Consolited”, AZX.
Para o abastecimento de Belém, está adquirindo gado em Santarém, atendendo um apelo do Governador Alacid Nunes e do Prefeito santareno, Elias Pinto. Com essa aquisição, presta inestimável colaboração aos criadores e fazendeiros da região do Baixo Amazonas que atualmente não tinham a quem recorrer para a venda do gado que enfrenta, com o crescimento das marés equinociais, o perigo de desaparecer tragado pelas enchentes. Com esse comportamento, o nosso homenageado Pedro Gomes, presta uma grande solidariedade aos criadores e fazendeiros.”
Foto copiada do perfil Belém Antiga, facebook
Em 1970 foi decretada a falência da firma.

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