terça-feira, 9 de novembro de 2021

Cidade, Identidade e Memória

 

 



Doca do Reduto em 1905, vista a partir da Rua dos Mártires (hoje 28 de Setembro)[*]

 

Venho do século XX! Não só de vivência, como de ler e ouvir contar histórias e fatos, até mais recuados no tempo! Não me prendo ao passado, mas a ele sempre recorro para entender o contexto atual e prever seus reflexos futuros. Claro que às vezes somos surpreendidos por novidades inesperadas, fatos políticos, descobertas científicas e tecnológicas, cura de doenças e incidência de novas que mudam o curso dos acontecimentos, renovando e atualizando nosso olhar e confirmando que as águas do rio que passam nunca serão as mesmas, nem nós.

Em agosto de 2019, espantou-me o fato de uma apresentadora de TV ao me entrevistar sobre o bairro em que morei mais de quarenta anos, não soubesse onde ficava a Doca do Reduto. Na verdade, não só ela, a grande maioria dos moradores da cidade desconhece ou esqueceu onde fica e a importância que teve na história da cidade, o antigo Igarapé, hoje Doca do Reduto. Pensam que o bairro possui apenas uma Doca, a de Souza Franco, que limita o Reduto com o Umarizal e que apresenta maior visibilidade na cidade, pelo tipo de urbanização e investimentos que recebeu e infraestrutura que oferece, muito embora o Canal do Reduto preserve mais elementos do passado que o Canal da Visconde de Souza Franco, talvez até por isso mesmo. O abandono, como ao que foi relegado o Reduto, contraditoriamente permite a permanência! Mas, dificilmente você, ao passar hoje pela Avenida General Magalhães, consiga imaginar a beleza que ela ostentava em 1905, como a foto acima comprova!

O que impõe a reflexão sobre a necessidade de conhecer o mecanismo de formação da memória e do esquecimento para preservação de nosso patrimônio cultural e da história de nossa cidade e que aponta para a responsabilidade de gestores, educadores, instituições, e nossa individualmente, de transmitir e registrar fatos vividos ou herdados. Memória individual e coletiva que precisa ser cuidada para garantir a construção de redes identitárias e que incluam também o resgate de memórias subterrâneas, resultado do olhar e registro dos fatos relacionados à população mais vulnerável. Como se fortalece ou não o sentimento de identidade e de pertencimento de uma sociedade? Como podemos perceber a ressignificação de nossas lembranças no presente? Como contribuir para estimular e preservar o amor pela cidade, sem descuidar da formação de uma cidade voltada para o futuro, quem sabe dentro dos padrões das CHICS – Cidades, Históricas, Inteligentes, Criativas e Sustentáveis?

Já há algum tempo venho me preocupando em escrever e resgatar um pouco dessa história vivida e/ou conhecida. Por exemplo, a relação que possa ter minha vivência e de meus antepassados com a história da cidade. Na adolescência e juventude, mesmo no início da idade adulta, não temos esse tipo de preocupação que só aparece com a maturidade que ganhamos com o avanço da idade. Quando percebemos que pouco tempo nos resta, quando temos essa chance de percepção, e que precisamos fazer os registros que hoje cobramos de nossos pais e avós não o terem feitos. Quando verificamos que o ambiente que emoldurou e teceu a história de nossos pais e avós e de nossa infância é muito diverso do que emoldura e tece a vivência de nossos filhos e netos e de nossa velhice. A proposta é usar este espaço para contribuir com essa construção!

 

 



[*] In Orico, Osvaldo, Da Forja à Academia, Memórias dum Filho de Ferreiro. Rio de Janeiro: Livraria José Olímpyo Editora 1956, p.110.

Nota: Texto originalmente escrito para a revista VI Amazônia,

 

Um comentário:

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