segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

Turma de Ciências Sociais de 1966 da FFCL/UFPa - Bodas de Ouro

Aurilea Gomes
Antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras/UFPA


O tempo passou célere! Véspera de Natal de 2016 e nos damos conta que há 50 anos deixamos de frequentar o casarão da Generalíssimo Deodoro, a antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da UFPA. Estamos completando Bodas de Ouro de formad@s. Sentimentos contraditórios nos invadem, nostalgia e plenitude de realização. O registro de hoje é em homenagem a nossa turma e ao nosso tempo de estudante universitário e sonhadores de um Brasil melhor! Sonhos e esperanças que permanecem!
Os jovens calouros que passaram no vestibular de 1963 não podiam imaginar as surpresas que encontrariam no decorrer de sua caminhada universitária. A primeira delas foi com o próprio resultado do vestibular. Neste  ano não teve redação e quem não tirou zero em uma das provas, todas objetivas, conseguiu ser aprovado. Ou seja, quem deixou de optar por um curso mais difícil por causa da concorrência, possivelmente perdeu a oportunidade de consegui-lo. A segunda foi a repressão à efervescência política e cultural da universidade brasileira, com o golpe de 64 abafando o movimento estudantil, perseguindo alunos e professores e impondo uma mudança na política de  ensino universitário,  censurando abordagem mais crítica e priorizando a licenciatura em detrimento aos cursos de bacharelato.
Portanto as expectativas do que seria um curso para formar pesquisadores em Ciências Sociais foram abaladas em seus alicerces: o curso passou a formar apenas licenciados, não mais bacharéis – o que me fez pensar em desistir; as abordagens teóricas passaram a ser transmitidas com receio, descuidando de revelar aos alunos os diferentes olhares e as diversidades de explicações sobre os fenômenos sociais.  Predominava a visão sistêmica na Ciência Política e a funcionalista na Sociologia, ousando a Economia Política avançar e lançar luzes sobre a diversidade de correntes. O impacto na formação de um espírito crítico nos estudantes, principalmente naqueles que não eram oriundos da escola pública e que não tinham vivência, leitura, nem militância política foi bastante comprometido, só sendo possível de ser recuperado anos mais tarde quando a UFPA iniciou a dinamização da pós-graduação na área de ciências sócio-econômicas, já no período de transição dos governos militares. 
Mas, paralela e contraditoriamente o curso permitia olhar uma mesma realidade sobre os diversos ângulos disciplinares das Ciências Sociais – dois anos de Sociologia com Orlando Costa, dois anos de Ciência Política com Amílcar Tupiassu, dois anos de Antropologia (Física com Armando Bordalo e Cultural com Napoleão Figueiredo), dois anos de Economia, incluindo Economia Política, com Roberto Santos, passando pela História Econômica Política e Social Geral, do Brasil e da Amazônia e pela Geografia Humana. Ao mesmo tempo oferecia ferramentas para um trabalho de análise e interpretação dos fenômenos, desde a Introdução à Filosofia com Benedito Nunes, à Matemática e Estatística, com a síntese na Metodologia e Técnica de Pesquisa com a Graça Landeira, que estreava na docência universitária com a nossa turma.
Registro do momento em que Lourdes Furtado, oradora do conjunto das turmas de licenciatura, lia seu discurso.
Professora Eurides Brito lendo seu discurso como paraninfa do conjunto das turmas
  A turma de Ciências Sociais que colou grau em 1966 era composta de apenas 10 alunos. O conjunto das turmas da faculdade que se formou nesse ano foi de 48 estudantes, tendo os cursos de Matemática, Letras e Geografia apenas cinco alunos cada. O curso de História era o mais numeroso com 12 formandos e o de Pedagogia com 11.
O pequeno número permitia também a colação conjunta no Teatro da Paz, com todos os colandos no palco, mais seus paraninfos e a mesa diretora.
As fotos abaixo registram momentos importantes do cerimonial e depois a festa em minha casa com alguns amigos e colegas de Ciências Sociais, muitos dos quais já falecidos.

Padre Carlos Coimbra no ato de bênçãos dos anéis


Auriléa Gomes realizando o Juramento em nome da turma


Prof. Napoleão Figueiredo, então diretor da FFCL entregando o anel para Auriléa Gomes
Os cursos anteriores à reforma universitária de 1968 funcionavam em regime seriado, o que possibilitava que alunos de uma turma iniciassem e concluíssem o curso juntos, facilitando os grupos de estudo, a formação de lideranças e criando sólidos laços de amizade entre os futuros profissionais. Como o trio abaixo com o Prof. Roberto Santos, indicado para paraninfo por nossa turma: Maria José Oliveira e Silva, hoje Jakson Costa, Auriléa Gomes, hoje Abelem e Heliana Oliveira da Silva, hoje Jatene.

A emoção de Pedro Gomes cumprimentando Auriléa, primeira filha a se formar

Auriléa Gomes no devaneio de um futuro profissional promissor

O abraço de cumplicidade de Auriléa com sua mãe Cecília Ramos Gomes

Emoção dos avós paternos, abraçando a primeira neta a se formar

Aurilea Gomes fazendo pose na escada do da Paz
Não poderia concluir sem, depois dos registros da cerimônia e antes de entrar no das comemorações, transcrever alguns dos versinhos que nosso amigo Lisbino escrevia durante as aulas, brincando com colegas e professores. Quase sempre passava pra Auriléa que ele sabia apreciava a brincadeira e os guardava com carinho na caixinha de recordações. Aproveito para com eles homenagear os amigos da turma de Ciências Sociais de 1966.


1. Só não farei mais versinhos
Nas aulas que tem a dar
Se o Bordalo na classe
Deixar também de embromar

2. Há muita gente na Igreja

Eu olho de fila em fila

Por que será que não veio

A nossa amiga Zuila?

Não quis empanar com a dor
A alegria da Gabriela
Pois bem poderia o Melo
Estar casando com ela!

3.Quando me sinto num grupo,
Preocupado procuro
Se entre os meus colegas
Não existe um dedo duro.

Como a gente nunca sabe,
Tive minha noite insone,
Pensando que a delatora
Bem poderia ser Ivone.

Já bem alta a madrugada
Fulgurou-me certa ideia:
Quem sabe a espiã

Não seria a Auriléa?

4. Após o Ato 14
Os meus votos no Natal
Serão de que pros amigos
Não seja o ano fatal.

A cor vermelha é bonita,
Chama a atenção da vista;
Mas é muito perigoso
De a julgarem comunista.

 O Ato 13 aí está
A nenhum de nós engana
Se a julgam esquerdistas
Fazem você mexicana.

5.Cara colega Auriléa
Que hoje à aula não vens
Permita que em tua casa
Te demos os parabéns.
Se fores à Faculdade
Gostaria de hoje ver-te


Pagar para a turma toda
Muitos copos de sorvete

Isolda “public-relations”
Da aniversariante
Disse: “lá não há nada”
“Vai ninguém em sua casa jantar”.

Ficar com fome esta noite
Não há ninguém que assim pense:
Já resolveu o problema
O Frigorífico Paraense.

Iolanda foi quem disse
E não o fez só pra mim:
É possível haver de carne
Até o doce e o pudim.

7. Nenhuma colega existe
Como a Maria José:
Ela chuta com mais classe
Do que o famoso Pelé.

8. Não pensem que Auriléa
Não dá bola à vaidade
Sabe bem que é mais bonita
Sua própria simplicidade.

A beleza da Isolda
Mesmo tratada em esboço
Haverá de consagrá-la
A rainha do pescoço.

Da Heliana “viúva”
A pensar sempre fico:
Já terá ela esquecido
O seu querido Mímico?


9. Mulheres da ala esquerda
Cuidado com os movimentos
Na bancada da direita
Há oito olhos atentos


10. Arlete estavas aérea
E ainda agora o és
Será que em todas as férias
Só pensante no Moisés?

11. Pediu para estudar seis meses
Gilberto ao Napoleão:
Respondeu o diretor
Ao preguiçoso que não.

12. O tacacá da Judith

É tão bom quanto afamado
Mas Auriléa vai lá
Pra lembrar o namorado.

Vestindo blusa bonita
Auriléa veio cá
Depois um colega mau
Derramou-lhe tacacá

13. Da Maria José não sei
O que nessas férias fez:
Por certo que aproveitou
Pra namorar todo o mês.

Heliana faz progressos
Na profissão foi avante
Em nossa turma já existe
Uma bela negociante.

Não me esqueci do Platilha
Mas lhe peço que não durma
Pois o queremos presente
A enriquecer nossa turma


14. Lá em frente à faculdade
Bem do tamanho de um ovo
Está outro 400
Todinho cheirando a novo.

 

 


Amigos e colegas de turma, Raimundo Melo, Lisbino Garcia e José Maria Platilha comemorando formatura em C.Sociais. na residência de Auriléa Gomes

Auriléa Gomes aguardando os convidados para celebrarem juntos festa de formatura

Pedro, Platilha,  Lisbino e Raimundo Melo comemorando formatura em C.Sociais. na residência de Auriléa Gomes

Platilha, Maria José, Prof. Adalberto (Prática de Ensino), Auriléa, Lisbino e Raimundo Melo


10 comentários:

  1. tão bacana suas memórias amiga... sou muito sua fã... beijão

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    1. Oi querida Nil. Só agora li seu comentário. Agradeço a você ter sido possível estes registros.

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    1. Obrigada, Dani Rodrigues. Depois de um longo intervalo, vou tentar retomar o blog.

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  3. Encontrei este blog por acaso quando pesquisava Belém.Eu sou da família Ferreira Lopes, sobrinha-neta de Mariana 2ª mulher de Rafael Fernandes Gomes. Gostava tanto de saber mais sobre eles...
    Arlete Lopes Matos

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    1. Oi Arlete, só agora vi seu comentário. tinha parado com o blog. Estou tentando retomar. Você pode fazer contato comigo através de mensagens no face. Qual o nome de seus pais? Você conhece Betty e May, netas de D. Mariana, filhas de tia Ceci?

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  4. Olá, meu nome é Lisbino Geraldo, filho de Lisbino Garcia. Obrigado pelas fotos de meu pai em seu blog, fico muito feliz ao me deparar com material em que ele é citado e eu desconhecia.

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    1. Oi Lisbino Geraldo! Fui muito amiga de seu pai, meu colega de turma do Curso de Ciências Sociais na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Só agora li seu comentário!

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  5. Após concluir o curso de licenciatura em Letras pela UEPA, ingresso no curso de Bacharelado em Ciências Sociais pela UFPA este ano. Em meio a pesquisas, encontro este blog. Estou muito feliz e inspirada. Muito obrigada por compartilhar conosco estes registros, querida Aurilea.

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