Faz tempo que havia decidido voltar a escrever em meu blog, memoriaabelem.blogspost.com, mas algo me tolhia. Não sei dizer bem o que, decepção com o mundo da política e seu reflexo em amigos e parentes, partida de amigos queridos, constatação das contradições que temos a enfrentar na vida ... O Carnaval me estimulou e me inspirou! Sempre foi assim ... Eis-me de volta!
De repente me vejo iniciando os anos vinte do século XXI. Tinha dúvidas se chegaria até aqui. É época de carnaval, chove lá fora. De longe ouço a música da Escola de Samba Quem São Eles, vizinha ao meu prédio no Umarizal. Viajo no tempo! Amo as chuvas de Belém! Elas me levam ao passado, da infância à idade adulta, à casa de meus pais, ao início das aulas e, principalmente, ao carnaval dessa época.
Época em que o carnaval de rua acontecia em diversos bairros, mas o corso de concentrava no "Largo da Pólvora" onde carros ornamentados, conversíveis e caminhões, e blocos irreverentes desfilavam para prazer de uma plateia que se concentrava nos quarteirões do Largo, principalmente em torno do Bardo Parque, no calçadão do Grande Hotel e nas janelas e terrasses de Clubes Sociais, como Assembleia Paraense e Tuna Luso Comercial.
Na caixa de documentos deixada por minha sogra, Emília Zaluth Abelem, encontramos duas páginas da revista "Vida Doméstica", de 1934, que bem retrata o que estou narrando. Uma delas mostra vários flagrantes do carnaval de rua no Largo - carros conduzindo crianças, adolescentes ou toda a família, fantasiados; os espectadores no terasse do Grande Hotel ou nas calçadas, sob o túnel de mangueiras ou próximos ao Bar do Parque; os mascarados, muitas vezes homens fantasiados de mulher, desfilavam pelas calçadas ou no meio da rua entre os carros conversíveis.
O link https:ufpadoispontozero.wordpress.com2013/02/08/o-carnaval-de-belem-nos-anos-50-por-antonio-paul-albuquerque/ nos remete diretamente a este tempo, acompanhado em seguida por uma entrevista de Alfredo Oliveira que comenta o vídeo. Ao concluir sua entrevista, Alfredo afirma: "A tristeza da insegurança acaba com a alegria da folia". É uma pena! Tempos e costumes que não voltam mais! Ficaram em nossas lembranças e nos registros memorialísticos feitos!
Revista Vida Doméstica, abril/1934. Arquivo família Abelem. |
Mas na década de cinquenta, e ainda na de 60, a alegria do carnaval não se resumia ao Largo da Pólvora. Da janela de nossas casas, podíamos nos alegrar ou assustar ao ver os mascarados passarem com suas irreverências e brincadeiras. Exemplo é o "Dr. Passa o Pau" da "Clínica Morra Sorrindo", retratado na imagem ao lado que encontrei na internet.
Lembro que na década de cinquenta o corso carnavalesco ainda se dava no Largo da Pólvora. E nós dele participávamos. Meu pai reunia os filhos, irmãos, cunhados, sobrinhos, vizinhos e amigos e organizava nossa saída no caminhão da firma Ferreira Gomes Ferragista S/A., fundada por seu avô Rafael Fernandes de Oliveira Gomes, em 1881. Não precisávamos de fantasias! Íamos dançar, cantar e participar da alegria que era desfilar no Largo da Pólvora, jogando confete e serpentina e esguichando lança-perfume. Antônio Jorge Abelem, meu falecido marido, contava que nessa época, ele e um grupo de amigos saiam do Ed. Manoel Pinto da Silva, onde um deles tinha apartamento, de cueca, apenas enrolados em um lençol e fantasiados de Nero iam brincar e dançar no Largo da Pólvora.
A outra página da Revista Vida Doméstica encontrada mostra flagrantes das festas nos Clubes Sociais da época - Palácio Theatro, que funcionava no Grande Hotel, Clube do Remo, Brasil S.C. e Syrio Sport Clube. Bailes infantis e de adultos com muita fantasia e blocos alegres, criativos e de muita elegância. Curioso que na última foto, da Diretoria do Syrio Sport Club, ao digitar estas linhas reconheci meu sogro, Jorge Abelem, que não cheguei a conhecer, pois faleceu quando seu filho, Antônio Jorge, tinha apenas 19 anos.